O ranking da pacificação
A UPP Santa Marta, em Botafogo, é tida como unidade-modelo. A comunidade que já foi dominada pelo tráfico hoje virou um dos pontos turísticos do Rio, com conceito cinco estrelas. Mas nem todas as direções apontam para um cenário de cartão-postal. Na ponta de baixo do ranking, com apenas uma estrela, estão as unidades Fallet, Coroa e Fogueteiro, no Catumbi, e São Carlos, no Estácio. Essas UPPs ficaram marcadas por confrontos trágicos e casos de corrupção (veja no quadro).
A classificação (de uma a cinco estrelas) foi feita pelo EXTRA, com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e com a avaliação feita pelo Comando de Polícia Pacificadora (CPP). Enquanto o Santa Marta recebe turistas despreocupados, os moradores de Fallet, Coroa e Fogueteiro convivem com o som dos tiroteios entre policiais e traficantes, como ocorreu na semana passada.
Em fevereiro, 13 pessoas foram presas na comunidade, com três quilos de cocaína, 662 gramas de maconha e sete balanças. Quando eram levados para fora da casa, os policiais foram atacados pelos próprios moradores, numa demonstração de apoio ao tráfico. Precisaram de gás lacrimogêneo para conduzir os criminosos às viaturas.
A unidade possui um perfil mais operacional e conta com seis policiais que vieram do Batalhão de Choque. Entre eles, o próprio comandante.
— Um dos maiores desafios é combater o tráfico — disse o capitão Sérgio Stoll, comandante da unidade.
A UPP do Morro do São Carlos ficou manchada pela prisão de um ex-comandante que tinha ligações com o tráfico. Agora, os policiais trabalham para resgatar a imagem da unidade. E já contam com o apoio de moradores.
— A minha parede era toda furada de tiros. Antes, a gente não ouvia, não enxergava, não falava e não saía de casa — comentou o marceneiro José Guedes Filho, de 78 anos, que mora na mesma casa há quatro décadas.
A importância de uma prisão
O trabalho de pacificação no Morro do São Carlos se divide em dois momentos: antes e depois da prisão de Marcílio Cherú de Oliveira, o Menor Cherú. Apontado como chefe do tráfico, ele foi preso na madrugada de 20 de fevereiro, durante a passagem de um bloco de carnaval no cruzamento entre a Ladeira São Diniz e a Rua São Carlos. Foi a quarta prisão de lideranças do tráfico na comunidade em quatro meses.
— Antes, os traficantes atiravam e fugiam quando viam patrulhamento. Com a prisão dele, esse tipo de situação foi reduzida. Agora, tenho que saber onde existe o tráfico para fazer o policiamento de proximidade. O trabalho policial e o social precisam andar juntos — comparou o capitão Ricardo Alves, comandante da UPP.
Morte na Mangueira
No Complexo da Mangueira, um outro episódio chamou a atenção. Em 26 de dezembro do ano passado, um traficante morreu numa troca de tiros com policiais da UPP, que foram recebidos a tiros numa área de tráfico. Dias depois, a mãe do bandido morto foi à sede da UPP. Ela usava uma camisa, com a foto do filho, escrito "saudade", e estava preocupada com o caçula de 8 anos, que estava com medo de ir à escola porque achava que seria alvo de policiais.
— Falei que não precisava ter medo, porque ele não era traficante — contou o capitão Leonardo Nogueira, que comanda a UPP.
Para João Trajano, professor de Ciências Políticas e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, é o histórico da relação dos policiais com a comunidade que irá ditar o rumo do processo de pacificação.
— A tendência é que as UPPs se consolidem mais rapidamente em comunidades menores, onde o tráfico não era tão articulado e não havia traumas na comunidade por causa da presença policial.
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